Até onde seu orgulho pode lhe ajudar?
Era uma vez um circo que corria todo o
interior de Minas Gerais. Não era lá essas coisas, mas para as pequenas
cidades da roça era uma grande atração. Quando as carretas apontavam na
estrada, com as cabines pintadas e os animais na jaula, chegavam a
novidade e a alegria.
O que mais chamava atenção eram os
elefantes. O maior deles era o Valdir, um animal vindo da Índia, país
onde os elefantes são sagrados e adorados como deuses. Quando criança,
elefantinho ainda, ele via seu pai desfilar enfeitado pelas ruas e gente
de todo o tipo ajoelhada a lhe pedir favores.
A religião hindu é mais uma armadilha do
diabo para enganar os incautos. Ensina que as almas reencarnam e seguem
um processo de evolução. São milhares os deuses que se originam desse
entendimento completamente contrário à Palavra de Deus. Ora, se isso
fosse verdade, com o passar dos milênios o ser humano melhoraria na sua
índole. O que se observa, entretanto, é que o pecado se multiplica à
medida que se aproxima o fim dos tempos. O Senhor Jesus sabiamente
advertiu:
"E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos." Mateus 24.12.
Pela força do destino, o paquiderme foi
vendido ainda jovem e acabou vindo de navio para o Brasil. Como era
orgulhoso, nunca aprendeu nenhum truque. Aliás, nem sequer deu a mínima
atenção aos tantos treinadores que teve.
Assim, o elefante indiano foi sendo
empurrado de circo em circo, até que terminou sem grandes privilégios,
num bem modesto, de interior, onde o Tonhão, um elefante africano e
muito humilde, fazia sucesso e acabava trabalhando pelos dois.
- Você é ridículo, Tonhão. Jamais me
sujeitarei a este papel de elefante de circo. Fique sabendo que sou um
animal sagrado, um deus reencarnado- dizia o presunçoso Valdir.
Para não dizer que Valdir era inútil, o
dono do circo, que sabia da total apatia do animal, oferecia um prêmio
em dinheiro para quem conseguisse fazê-lo sentar, que é o truque mais
elementar para um elefante amestrado.
Os candidatos puxavam a corda amarrada
no pescoço do elefante, penduravam-se no seu rabo, empurravam-lhe as
patas, traziam camundongos para assustá-lo, ofereciam amendoim, mas nada
surtia qualquer efeito. O Valdir era mesmo um elefante muito orgulhoso.
Até que um dia, um rapaz esperto,
acostumado a lidar com a teimosia das mulas, assistindo ao espetáculo
decidiu enfrentar o desafio. Ele era o ponta-esquerda do time de
futebol. Tinha uma canhota poderosa. O chute do rapaz era uma bomba de
furar a rede.
- Senhoras e senhores, agora o elefante mais teimoso do mundo desafia quem possa fazê-lo sentar - anunciou o dono do circo.
O rapaz se levantou e se dirigiu ao
centro do picadeiro. Olhou seriamente nos olhos pequenos e soberbos do
animal. Depois passou a rodeá-lo lentamente, como a procurar um ponto
fraco. Quando estava por detrás do elefante, mandou o pé num chute
potentíssimo, que atingiu em cheio os testículos graúdos do Valdir, que
lhe caíam pendurados entre as patas traseiras.
O elefante só teve tempo de emitir um
longo e doloroso "uíííííííííííííííííí!!!", enquanto as patas de trás
perdiam a sustentação e escorregavam, fazendo aquelas toneladas se
sentarem no chão.
A plateia delirou e o rapaz recebeu o
prêmio. No dia seguinte, o circo partiu para outra cidade. Eles agora
tinham um problema. Como aproveitar aquele elefante como uma atração que
justificasse toda a comida que lhe custava, e o incômodo de
transportá-lo de um lado para outro?
Resolveram mudar a exigência. Agora, em
vez de fazê-lo sentar, o prêmio seria dado a quem fizesse Valdir falar
sim e não. Dessa maneira, estariam seguros de que ninguém levaria o
prêmio.
Na primeira noite de espetáculo na nova
cidade, com casa cheia, quando o desafio foi lançado à plateia, o mesmo
rapaz desceu da arquibancada em direção ao picadeiro. Ao vê-lo, o
orgulhoso elefante sentiu um arrepio percorrê-lo desde a ponta do rabo
até a ponta da tromba. Todo mundo já ouviu falar da tal "memória de
elefante". O Valdir lembrava claramente daquele chute de canhota.
O rapaz olhou firme dentro dos seus
olhos e lentamente começou a rodeá-lo, exatamente como da outra vez. A
cada volta, Valdir suava frio. O jovem se aproximou, levantou aquela
orelha imensa e sussurrou-lhe ao ouvido:
- Você me conhece, Valdir? - ao que o elefante de imediato respondeu, movendo a cabeça de cima para baixo, exprimindo um "sim"!
- Quer levar outro chute daquele? - ao
que o elefante imediatamente movendo a cabeça de um lado para o outro,
expressou um angustiado "não!".
- Então senta Valdir! - ao que o animal prontamente obedeceu, dobrando as patas traseiras, sentando docilmente.
O público explodiu em aplausos, enquanto o dono do circo, boquiaberto e a contragosto, pagava o prêmio ao rapaz.
O orgulho é mesmo terrível e nos faz
teimosos como o elefante Valdir. Admirador de si próprio, o orgulhoso
não ouve ninguém e se considera o dono da verdade. Até que chega o dia,
aquele dia, em que Valdir sentou. Melhor e muito menos doloroso é
aprender através da humildade.
Tonhão, o humilde elefante africano, que
era tido por Valdir como ridículo, até hoje dá gargalhadas quando
lembra da cara do Valdir.
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