SALMOS

"INSTRUIR-TE-EI E TE ENSINAREI O CAMINHO QUE DEVES SEGUIR; E, SOB AS MINHAS VISTAS, TE DAREI CONSELHO. NÃO SEJAIS COMO O CAVALO OU A MULA, SEM ENTENDIMENTO, OS QUAIS COM FREIOS E CABRESTOS SÃO DOMINADOS; DE OUTRA SORTE NÃO TE OBEDECEM."

SALMOS 32:8 e 9
































































segunda-feira, 11 de maio de 2015

A (MÁ) SORTE DA CIÊNCIA

Um estudo publicado na revista Science no início deste ano se transformou em polêmica no meio científico. Conduzido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e da Escola de Saúde Pública Bloomberg, afirmava que a maior parte dos casos de câncer podia ser atribuída a “má sorte” (exatamente “bad luck”, no artigo científico original).
O câncer é causado por uma mutação em uma célula que começa a se dividir desordenadamente. Os pesquisadores encontraram relação entre a quantidade de divisões celulares em um tecido e a chance de aquele tecido desenvolver câncer. Ao não encontrarem padrões ou razões aparentes para a ocorrência dessas mutações em um determinado tecido mais do que em outro, concluíram se tratar de uma questão de “má sorte”.
Imaginei que toda a comunidade científica iria cair em cima, horrorizada com o uso da palavra “sorte” em um artigo científico, e esperei um tempo para ver a repercussão. Sim, houve polêmica, mas em torno da conclusão da mídia, de que era inútil evitar o câncer.
Questionaram os métodos, os cálculos e a interpretação dos jornalistas. Os autores prometeram deixar os resultados mais claros, para que as pessoas não entendam que podem desprezar os cuidados com a saúde. Mas nada foi questionado sobre a dona sorte.
Não é novidade. Sobre esse mesmo assunto, em 2004, o renomado fisiologista Richard Doll, um dos responsáveis por encontrar a conexão entre cigarro e câncer de pulmão na década de 60, escreveu um artigo na revista International Journal of Epidemiology, que terminava com a seguinte frase:
“Se um indivíduo exposto vai desenvolver ou não um câncer é, em grande parte, uma questão de sorte; má sorte se as várias alterações necessárias ocorrerem todas na mesma célula-tronco enquanto há vários milhares desse tipo de células em risco, e boa sorte se não ocorrerem.”
Sério. Células azaradas! E realmente querem que eu dê crédito de “verdade absoluta” ao que dizem. Má sorte e boa sorte têm a mesma fonte. Esse conceito surgiu quando, sem saber explicar, as pessoas atribuíam os eventos à existência de uma força oculta responsável por acontecimentos aparentemente aleatórios. Essa força foi chamada de sorte e serviu como inspiração para a criação de inúmeras divindades pagãs, como a romana Fortuna ou a grega Tique. Então, cientistas do nosso tempo fazem exatamente o que religiosos do passado faziam.
As pessoas acreditam que as respostas que a ciência oferece são verdades irrefutáveis, mesmo quando embasadas em conceitos pouco confiáveis. O pensamento científico moderno julga aleatórios processos que não compreende. Estranhamente, porém, abomina qualquer menção a uma inteligência superior por trás da criação do universo, alegando que as pessoas criaram a ideia de Deus para explicar coisas que não entendiam direito… Opa, não é exatamente o que a ciência faz com “sorte”?
Afinal de contas, o que é melhor? Tentar descobrir o que há nos espaços vazios (ainda que fuja à compreensão) ou culpar o acaso, fechando os olhos para aquilo que não entendemos? Quantas conclusões equivocadas têm sido tiradas com base no acaso? Muitas descobertas reais deixam de ser feitas porque a ciência fecha os olhos para aquilo que ela não quer ver.
Qual é a diferença entre uma força aleatória desconhecida e uma força específica desconhecida? E se, em vez de “má sorte”, o artigo dissesse “demônio”, teria sido publicado em uma revista científica? Imagine ler em um jornal secular: “A maioria dos casos de câncer é causada por demônios”. E se fosse enviado à Science? Provavelmente, o artigo seria rejeitado, sob o pretexto de “não ser científico”…
Quando não encontra uma razão para determinado evento, significa que essa razão não existe ou, simplesmente, que você a desconhece? Responsabilizar o acaso é não querer assumir que falta conhecimento suficiente a respeito de questões básicas, como, por exemplo, a aparente aleatoriedade das mutações em células-tronco. Serão realmente aleatórias? Se depender dos sacrifícios da ciência à deusa sorte, jamais saberemos.

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